*Era uma vez uma condessa que cativou o coração de um cavalheiro de terras distantes. Ele, em um gesto de amor, construiu um castelo para amenizar no coração de sua bela a saudade de sua longínqua querência!
Em São Gabriel, no dia 29 de julho de 1857, nascia Joaquim Francisco de Assis Brasil, nosso cavalheiro idealista, seu pai um grande proprietário de glebas. Ele cresceu em contato com as rudes lidas do homem do campo. Sabia, sentia que algo existia além das pradarias; os mistérios despertavam seus sonhos, sabemos que felizes são os homens que sonham... Começou seus estudos em sua cidade, porém aquele pequenino lugar ficaria distante, pois em São Paulo mais um notável advogado gaúcho iria diplomar-se. Entre muitos "fratellos", um era especial: Júlio Prates de Castilhos. Eram muitos os projetos. Tinham a certeza de que a República chegaria e eles teriam muito a fazer. Júlio lhe apresentou sua irmã, Maria Cecília Prates de Castilhos, e Cupido flechou Joaquim. Com a filha do comendador teve 4 filhos: Maria Cecília, Carolina, Francisco e Joaquim. Tudo em casa caminhava dentro da normalidade. Fora de casa os cunhados começavam a discordar. Francisco, aos cinco anos e Joaquim, aos dois, contraíram Tifo. Cecília, mãe dedicada, passa horas cuidando e orando, mas infelizmente a doença, pela inexistência de medicamentos eficazes, vence, e a mãe e os guris falecem. Joaquim fica viúvo com duas meninas pequenas. As desilusões com a política da época o fazem adentrar na diplomacia. Vai trabalhar em Portugal, onde torna-se amigo de Carlos I. Caçavam juntos. A vida remoldava-se. Em 4 de novembro de 1878 nascia em Bonn, na Alemanha, Lydia Smith de Vasconcellos Pereira Felicio, filha do 2° Conde de São Mamede. Quando conheceu aquela jovem, encantou-se e o pedido de casamento foi questão de pouco tempo. Assis Brasil foi atuar na diplomacia na capital estadunidense e em Washington nasceria a primeira filha do casal. Ao perguntar à esposa quanto ao nome da menina, Lydia respondeu que não poderia ser outro que não o nome de sua primeira amada - Cecília - e aquela filha, desde o primeiro instante, se tornaria o lenitivo da alma de seu pai. Joaquim não admitia um pai ter predileções; no entanto, a pequena Cecília era especial.
Muito fez Assis no campo político: esteve à frente das negociações com a Bolívia no Tratado de Petrópolis; em 1923 levantou sua bandeira contra as fraudes nas eleições, exigindo mudanças no sistema vigente. Não queria a guerra, porém foi inevitável... Um pacto em seu castelo foi assinado e depois viveu exilado em Mello, retornando ao cenário político quando os ânimos já estavam serenados. Em 1930 apoiava Getúlio e foi Ministro da Agricultura, demonstrando que entendia do riscado. Lutou pelo estabelecimento de justiça nas eleições, mas como ninguém é perfeito, foi contra o voto feminino. Entre o mundo e seu paraíso (Granja de Pedras Altas) muito fez. Mostrou que é possível crescer possuindo apenas uma pequena propriedade, agregando valor ao produto através de beneficiamentos (mini-indústria) dentro das terras. Ao passarmos por uma propriedade e percebermos uma vaca Jersey pastando, lembremo-nos de que foi ele, Assis Brasil, Patrono da Agricultura, quem comprou do plantel da Rainha Vitória e trouxe para o pampa um animal resistente e que produz leite com concentrado teor de gordura. Em Pedras Altas, diversificou na pecuária e na fruticultura. Tanto nos ensinou esse mestre… Mostrou que "o arado educa a terra e o livro amanha a alma". Assis Brasil nutria admiração pelo Presidente que tirou os EUA da crise de 1929, Franklin Delano Roosevelt e pelo Pai da Aviação (para nós, brasileiros) Santos Dumont, um visitante ilustre do Castelo. Lydia e Joaquim Francisco viveram felizes, mesmo em tempos de guerra. Criaram seus oito filhos… Contemplaram as noites estreladas da pampa gaúcha, sonharam e realizaram. Na véspera do Natal de 1938 ele faz a Boa Viagem. E Lydia?! Retorna à Europa?! Vai para a capital?! Não! Ela dá sequência ao sonho de seu amado; manter a granja era manter seu amor desperto… Viveu para assistir às muitas mudanças. Em Pedras Altas, hoje município emancipado, auxiliou na escola e no Hospital. Todos admiravam as moradoras ilustres do Castelo, poliglotas, cultas, que saíam dirigindo o carro que o pai ganhou de Henry Ford... Fizeram história e adentraram a nossa memória. Em 1973 foi a vez dela partir na Boa Viagem para, em outro paraíso, reencontrar aquele que ela muito amou.
*Parte do texto publicado pela professora Fátima Fabiana .